Rainha do grafite brasileiro marca uma nova geração com esperança

Tess Thomas  | 

(Cortesia de McKinley Tretler / Malala Fund)

(Cortesia de McKinley Tretler / Malala Fund)

Panmela Castro e sua organização, a Rede Nami, usam o grafite para ajudar meninas a enfrentarem o racismo, o sexismo e a violência de gênero.

A Panmela Castro sabe o que é não poder se manifestar. Ela foi vítima de abuso doméstico quando jovem. Mas quando denunciou à polícia no Rio de Janeiro, foi dito a ela que o ataque estava totalmente dentro da legalidade. Recusando-se a ficar em silêncio, a Panmela começou a expressar a sua ira com a ferramenta mais poderosa à sua disposição: uma lata de spray.

No Rio, a artista grafiteira criou murais que desafiavam a cultura de machismo e a violência de gênero. Geralmente o seu trabalho retrata rostos de mulheres em cores vibrantes e intensas com flores e cabelos entrelaçados para simbolizar a irmandade. Ao celebrar o poder das mulheres, a Panmela trabalhou para reivindicar as ruas como um local para os dois gêneros. Apelidada de “rainha do grafite brasileiro”, Panmela descobriu que já que o grafite a ajudou a encontrar a sua voz, talvez pudesse ajudar outras mulheres e meninas brasileiras a encontrarem a delas também.

Em 2010, ela fundou a Rede Nami para educar e dar poder a meninas e mulheres através do grafite. Elas mantêm grupos de debate no Rio ligados a questões que afetam a população feminina, inclusive violência doméstica, racismo, sexismo. A Rede Nami educa as participantes com relação aos seus direitos e aos recursos que podem dar apoio a elas, em seguida são realizados seminários para expressar estes temas através do grafite.

“Nas escolas, não ensinam as meninas tudo que precisam saber,” explica a Panmela. Através dos seminários da Rede Nami, as garotas estão “aprendendo os seus direitos de uma maneira legal”. A Panmela acha que o grafite ajuda a iniciar o diálogo — ele incentiva as meninas a exporem suas vidas de um modo que normalmente não aconteceria. A Rede Nami realiza seminários nas escolas, em abrigos para vítimas de abuso doméstico e na sua sede no Rio.

(Cortesia de McKinley Tretler / Malala Fund)

(Cortesia de McKinley Tretler / Malala Fund)

“Elas enfrentam todos os tipos de problemas porque são mulheres e meninas,” diz Panmela com relação às alunas da Rede Nami. A violência de gênero continua a ser uma epidemia no Brasil — uma pesquisa em todo território nacional em 2017 mostrou que quase um terço das mulheres e meninas brasileiras haviam sofrido violência no ano anterior.

Embora a Lei Maria da Penha de 2016 (a qual aumentou as punições por abuso contra mulheres) tenha resultado em uma redução na violência contra mulheres brancas, o número de mulheres brasileiras negras assassinadas aumentou de forma progressiva. Em média, as mulheres afro-brasileiras ganham quase 40% a menos do que as mulheres brancas. Além disso, as crianças afro-brasileiras têm uma probabilidade muito maior de serem obrigadas a sair da escola.

Estas estatísticas ilustram uma realidade que a Panmela conhece muito bem. A partir do seu trabalho, ela descobriu que a discriminação é uma experiência universal entre as mulheres e meninas brasileiras: “Quando fico conhecendo meninas mais jovens, vejo que somos iguais. Nossas origens são as mesmas, temos as mesmas experiências de sexismo e racismo.”

A Yasmin é uma das alunas mais jovens da Panmela. Participar dos seminários da Rede Nami a ajudou a perder sua timidez e a conhecer outras mulheres afro-brasileiras. Ela tem orgulho de ver que o seu trabalho — que geralmente retrata mulheres afro-brasileiras — está agora dando poder a outras meninas em sua comunidade: “Quando as meninas verem a arte feita por mulheres negras nas ruas, verão que estamos fazendo que este lugar seja um lugar para elas também.”

(Cortesia de Tess Thomas / Malala Fund)

(Cortesia de Tess Thomas / Malala Fund)

A J.Lo é outra graduada da Rede Nami que dá crédito à organização pela mudança em sua vida. Sendo uma mulher negra declaradamente homossexual, a J.Lo sofreu discriminação profissional. Ela começou a participar de seminários da Rede Nami para mulheres afro-brasileiras e descobriu uma comunidade. Nos seminários #AfroGrafiteiras da Rede Nami para meninas e mulheres afro-brasileiras, falam de preconceito, violência doméstica, direitos sexuais e direitos no trabalho. Essas conversas fazem com que a J.Lo se sinta “muito mais segura e nos ajuda a saber que não estamos sozinhas”.

Conforme aumenta o conservadorismo no Brasil, a Rede Nami enfrenta uma escassez de verbas já que nem todos recebem bem sua mensagem feminista. Isto está forçando a organização a reduzir os seus programas nas escolas. Porém a Panmela é irredutível: ela está determinada a continuar a armar as mulheres e meninas brasileiras com conhecimento, confiança e latas de spray.

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Tess Thomas

is the former editor of Assembly. She loves books, cats and french fries.