Meninas indígenas e quilombolas lutam pelo financiamento a educação no Congresso Nacional do Brasil

Tess Thomas  | 

(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Nossos fotógrafos acompanharam essas jovens ativistas durante suas conversas com deputados brasileiros sobre os problemas enfrentados em suas escolas.

Quando a estudante pataxó hã-hã-hãe Clarisse Alves Rezende, de 16 anos de idade, terminar o ensino médio no próximo ano, ela não vai pensar sobre o quanto ela aprendeu, mas sobre o quanto ela teve de lutar para chegar lá. Em um discurso para membros do Congresso Nacional do Brasil em novembro, ela descreveu os desafios que enfrenta como estudante indígena. 

“[Meu diploma] vai representar todos os dias que o ônibus da escola quebrou e eu não consegui chegar até a escola ou todas as vezes que ficamos meses sem professores porque no meu estado na Bahia, o concurso para professor indígena está longe do ideal, vou me lembrar das vezes que não tínhamos sala para estudar, que faltou merenda e até água para a gente beber”, declarou Clarisse. 

Há mais de um milhão de meninas fora da escola no Brasil atualmente. As meninas indígenas ou quilombolas são as mais propensas a encontrar barreiras à sua educação. Ainda assim, o Congresso Nacional não renovou o Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (FUNDEB), destinado a assegurar que escolas marginalizadas recebam os recursos de que precisam para apoiar seus alunos. A menos que o Congresso tome medidas, o FUNDEB será encerrado em dezembro de 2020.

(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Ativistas pela educação das meninas do Malala Fund no Brasil, incluindo Rogério Barata, Denise Carreira e Ana Paula Ferreira de Lima, organizaram uma audiência pública para que meninas como Clarisse pudessem incentivar os líderes brasileiros a apoiar o direito de aprender. Na audiência, Denise também apresentou um novo relatório escrito pelos ativistas do Malala Fund, que explica por que o FUNDEB precisa ser fortalecido, e não descontinuado. Ele detalha o racismo estrutural que impede que estudantes no Brasil aprendam e recomenda como os líderes podem lidar com essas desigualdades com mudanças e aumento no financiamento educacional. O relatório também inclui depoimentos de meninas como Clarisse sobre os desafios enfrentados por suas escolas, incluindo banheiros precários, transporte não confiável, professores mal remunerados e acesso insuficiente a tecnologia.

Nosso fotógrafo juntou-se a essas jovens ativistas e aos ativistas do Malala Fund em sua viagem ao Congresso Nacional do Brasil. Acompanhe a luta deles abaixo.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Com apoio do Malala Fund, a Associação Nacional de Ação Indigenista (ANAÍ) e o Centro de Cultura Luiz Freire (CCLF) treinam meninas indígenas e quilombolas como defensoras da educação. A viagem ao Congresso Nacional do Brasil, em Brasília, proporcionou as meninas de diferentes comunidades a oportunidade de se conhecerem e aprenderem umas com as outras. 

“Chegando em Brasília me deparei com as meninas quilombolas e vi nelas as mesmas histórias que vivenciamos na nossa aldeia e a força que elas têm para defender os direitos do seu povo, foi uma troca de conhecimentos. Não só para mim mas para todas as meninas serviu como aprendizado”, conta a estudante tupinambá Simeia Silva de Souza, de 17 anos.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Antes de suas reuniões e discursos no Congresso Nacional, as meninas compartilharam suas histórias umas com as outras e aprenderam mais sobre o FUNDEB e o financiamento educacional no Brasil. 

“Também nessas reuniões cada uma de nós indígenas e quilombolas falamos sobre o que se passa dentro da escola tendo muitas dificuldades e barreiras que impedem uma educação de qualidade”, explica Simeia, que espera continuar estudando e tornar-se veterinária.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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A Rede de Ativistas do Malala Fund oferece treinamento e os recursos necessários a líderes locais para quebrar as barreiras à educação de meninas em suas comunidades. Com estudantes indígenas e quilombolas precisando de mais apoio do governo, os ativistas do Malala Fund no Brasil uniram forças para defender essas comunidades no Congresso. 


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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No Relatório dos ativistas do Malala Fund sobre o FUNDEB, Clarisse descreve a difícil jornada que precisa fazer para chegar à escola todos os dias: “As estradas estão todas acabadas, esburacadas. Com isso os ônibus acabam quebrando no meio da estrada, e a gente tem que andar quilômetros. A escola é bastante distante da nossa casa e quando chega à noite e tem que andar... a noite na estrada é perigosa pra ficar andando a pé e ainda mais com crianças pequenas”. Ela também detalha como os alunos precisam se revezar para usar utensílios e pratos no refeitório porque não há o suficiente para todos e, às vezes, também não há comida suficiente. 


Em Brasília, a estudante tuxá Joana Darc Sena de Souza, de 22 anos (esquerda), e a estudante quilombola Bianca Maria da Silva, de 18 anos (direita), falaram ao podcast Programa ECO, um programa focado no meio ambiente e nas questões sociais, como direitos indígenas. A dupla discutiu a importância de aumentar o financiamento para o FUNDEB para apoiar a educação de estudantes indígenas e quilombolas e como o governo continua negando a comunidades marginalizadas no Brasil o seu direito de aprender. 


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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“Um dia antes de viajar fui me pintar. Um forma de fortalecimento e agradecimentos ao meus antepassados por estar passando adiante a sua luta, pedindo também que o pai tupã abençoe a todas nós”, explica Simeia.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Clarisse, Bianca e Simeia se divertem enquanto se preparam para falar no Congresso Nacional do Brasil. 


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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No final do dia de preparação, as jovens ativistas fizeram um toré, um ritual sagrado que os povos indígenas do Nordeste praticam para pedir aos espíritos força e proteção.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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O Malala Fund acredita que as meninas devem falar por si mesmas e dizer aos líderes o que precisam para aprender e alcançar seu potencial. A organização trabalha para levar as meninas para os espaços de tomada de decisão para que suas opiniões e experiências possam influenciar decisões que afetam nosso mundo.  


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Simeia e sua amiga Shayres tiram uma selfie antes do início da audiência. Em Brasília, o grupo de jovens ativistas trabalhou para desmistificar a crença de que comunidades indígenas não usam tecnologia. Se o governo aumentasse o financiamento educacional em suas comunidades, suas escolas poderiam fornecer mais computadores e aulas de tecnologia. 


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Durante sua fala para os líderes do Congresso, Clarisse discutiu como é importante para os estudantes indígenas ter acesso a escolas em suas aldeias. Ela explicou que, quando estudantes indígenas frequentam escolas não indígenas, “onde geralmente sofremos preconceito por ser quem nós somos, onde tenho que pensar duas vezes antes de pintar meu rosto ou colocar meu cocar, algo absolutamente sagrados para mim e para meu povo”.

Clarisse concluiu suas observações com um chamado para seus colegas: “E como Malala sempre diz só percebemos a importância da nossa voz quando somos silenciados. E não seremos”.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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A estudante pataxó Shayres Monteiro Ferreira, de 15 anos, leu uma carta de Malala para Rodrigo Maia, presidente da Câmara dos Deputados. Em sua carta, Malala pediu pela continuação do FUNDEB e declarou: “O investimento na educação das meninas agora é um investimento na paz futura e prosperidade do seu país”. A Câmara dos Deputados decidirá a renovação do financiamento para o FUNDEB em fevereiro de 2020.


(Crédito Yasmin Velloso / Malala Fund)

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Simeia, Shayres e Bianca caminham pelos corredores do Congresso, um lugar que muitas vezes ignora vozes indígenas e quilombolas. “Estamos reivindicando nossos direitos”, Simeia diz sobre a experiência.

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Tess Thomas

is the former editor of Assembly. She loves books, cats and french fries.