Três gerações de mulheres no Brasil lutam para completar sua educação

Gabrielle Arruda  | 

(Crédito Gabrielle Arruda)

(Crédito Gabrielle Arruda)

A estudante de 20 anos Gabrielle Arruda escreve sobre as barreiras que ela, sua mãe e sua avó superaram para aprender.

Em janeiro de 2017, me tornei a primeira mulher da minha família a frequentar a universidade. Essa conquista é um testemunho não apenas da minha força e perseverança, mas também da força e perseverança das mulheres que me ensinaram a lutar pelo meu direito de aprender: minha avó e minha mãe.

Minha avó cresceu no nordeste do Brasil. Sendo a filha mais velha de 16 filhos, era responsável por cuidar de seus irmãos. Sua família precisava dela em casa para os afazeres domésticos e, por isso, meus bisavós tentaram a impedir de ir à escola. Minha avó só tinha um simples desejo: poder escrever o nome dela, Antonia. Em frente à sua casa de barro, ela tentava com um galho desenhar seu nome na areia. 

Depois de muito insistência, os pais dela concordaram em deixá-la ir à escola, desde que ela pagasse por seus próprios materiais escolares. Aos 10 anos, ela começou a trabalhar em uma fábrica de farinha para financiar seus estudos. Infelizmente quebrou o braço em um acidente com umas das máquinas e teve que parar de trabalhar. Incapaz de pagar o material escolar, os seus sonhos foram suspensos.

Estou aqui por causa dos sacrifícios das mulheres que vieram antes de mim. E estou determinada a melhorar as condições das mulheres no Brasil para que a próxima geração de meninas possa ir ainda mais longe.
— Gabrielle Arruda

Mas minha avó era paciente e corajosa. Quando ficou mais velha, uma seca atingiu sua comunidade e as oportunidades de trabalho secaram. Ela viajou para São Paulo e começou a trabalhar como empregada doméstica. Embora já tivesse três filhos pequenos, e tendo que pagar as contas sozinha, quando meu avô a deixo, ela encontrou uma maneira de se matricular na escola. Trinta anos depois que ela parou de estudar, minha avó finalmente aprendeu a ler e escrever.

Como minha avó, minha mãe Joelma também teve um sonho: cursar a faculdade. E, como minha avó, ela começou a trabalhar em uma fábrica desde nova. O salário da minha mãe mal era suficiente para pagar o aluguel, e muito menos para pagar a faculdade. E logo depois que ela se formou no colegial, ficou grávida de mim. Embora ela tenha me chamado de bênção, eu me tornei outro fator que dificultava minha mãe de alcançar suas ambições. Minha mãe sacrificou seus próprios sonhos para me dar uma chance de realizar os meus.

Minha mãe e minha avó trabalharam para garantir que eu recebesse as oportunidades que não receberam. Lembro-me de minha mãe me ensinando sílabas do letreiro de "feliz aniversário" que sobrara da minha festa de aniversário de infância. Lembro-me de minha avó sentada na cozinha e me ajudando a ler seus versículos da Bíblia.

Como cresci na periferia de São Paulo, era difícil acessar as necessidades básicas da vida, como assistência médica, educação e água potável. A escola pública da minha comunidade não fornecia aos alunos uma educação de qualidade, um problema por todo o país. Somente 30 em 100 graduados do ensino médio no Brasil sabem ler e escrever funcionalmente, e apenas quatro desses 30 alunos podem fazer cálculos básicos do ensino médio.

(Crédito of Gabrielle Arruda)

(Crédito of Gabrielle Arruda)

Minha mãe e eu sabíamos que, se eu quisesse ir para a faculdade, eu teria que frequentar uma escola secundária diferente, então me matriculei em uma escola a 40 quilômetros de mim. Minha jornada de ida e volta da escola durava cinco horas. Envolvia trens e ônibus lotados, mas valeu a pena. Enquanto vi meus amigos do bairro, infelizmente, enfrentando violência, drogas e gravidez precoce, tive a chance de aprender sobre a história da humanidade e a organização do universo. Enquanto em casa, enfrentava violência doméstica e passava as noites tremendo de medo de meu pai, encontrei refúgio em debates, livros, pesquisas e projetos sociais.

Meu trabalho duro valeu a pena. Aos 17 anos, entrei em uma das dez melhores universidades do país. E mais do que isso, pude ver minha mãe entrar na faculdade comigo, 17 anos depois de se formar no ensino médio. Ela começou seus estudos em pedagogia em uma faculdade a distância financiada pelo governo. Ver minha mãe lutando por seu lugar me fez uma pessoa mais forte. Depois de observá-la, eu sabia que, apesar das dificuldades, poderia concluir minha educação.

Minha luta ainda não acabou. Atualmente, frequento mais de seis horas por dia em transporte público, viajando entre casa, trabalho e faculdade. É difícil manter o ritmo com o transporte lotado e inseguro, a violência das noites de São Paulo e a falta de tempo para estudar e dormir. Mas ganho força quando penso nas mulheres que trabalharam tanto para que eu pudesse estar aqui.

Por causa da minha educação, sou a primeira mulher da minha família a poder escolher o meu futuro. Então, estou determinada a experimentar essa vida ao máximo. Minha avó levou 30 anos para aprender a ler. Minha mãe levou 17 anos para entrar na faculdade. E não importa quanto tempo leve, não vou desistir de realizar meu sonho de tornar as escolas no Brasil acessíveis a todas as classes sociais.

Em 2017, com a organização Semeando Educação, ensinei à minha comunidade de São Paulo como a educação pode ajudar a tirá-los da pobreza. Por meio de palestras, orientamos mais de 5.000 jovens e os incentivamos a continuar seus estudos. E estamos apenas começando.

Estou aqui por causa dos sacrifícios das mulheres que vieram antes de mim. E estou determinada a melhorar as condições das mulheres no Brasil para que a próxima geração de meninas possa ir ainda mais longe.

flower.png
Meet the Author
Meet the Author
Gabrielle Arruda

is a young Brazilian sustainable development activist. She is passionate about technology, eggplant lasagna and thriller TV shows. You can follow her on Instagram.